Quem conhece a história
do Brasil sabe que, em momentos de crises e transformações, a sociedade inicia
a busca por heróis e heroínas. Figuras controversas dividem a opinião pública,
mas continuam em lugares de destaque entre os revolucionários, libertários e
justiceiros: Dom Pedro II, Princesa Isabel, Tiradentes, Machado de Assis, Juscelino
Kubitschek e Zuzu Angel. Em 2013, os brasileiros procuraram por figuras
heroicas nas ruas, centro das manifestações sociais, mas poucos foram os
encontrados ou reconhecidos. Na política atual, a procura por heróis justos e
honestos é ainda mais difícil: você é capaz de citar quantos?
Há quem não acredite em
políticos honestos, pero que los hay, los
hay. Mas quando se torna difícil encontrá-los na vida real, eles acabam por
ser criados na ficção, como fez Patrícia Baikal, em seu primeiro romance
político intitulado “Mariposa – asas que mudaram a direção do vento”. Numa trama que se desenrola em Brasília, no
ano de 2020, a autora traz um senador jovem de trinta e oito anos, Nicolas, que
não se intimida diante de seus colegas corruptos, os quais fraudam licitações,
vendem informações sigilosas de órgãos governamentais e põem em risco o futuro
do país.
Mariposa é a mulher que
conduz Nicolas num cenário político instável, desvendando esquemas de corrupção
no Congresso Nacional, com a colaboração da Polícia Federal, Agência de
Inteligência e até da Presidência da República. Ela também é a representação do
universo feminino, e o seu papel no contexto histórico atual. Mesmo não sendo ela a narradora da história
(que é narrada por Nicolas, em primeira pessoa), os leitores verão que Mariposa
tem um papel fundamental na trama. Sempre mascarada para omitir sua identidade,
ela aparece e reaparece em lugares visados de Brasília (Monumento JK, nova
torre digital, painéis de Athos Bulcão entre outros), explorando a capital em
todos os ângulos arquitetônicos e paisagísticos.
O livro é também uma
reflexão do momento histórico atual do Brasil, embrenhado numa política
polarizada. Esta polarização é simbolizada no livro por meio do combate entre
Nicolas e Brassel, dois senadores que travam discursos calorosos na tribuna, retomando
os tempos antigos da Roma antiga, como a citação, por Nicolas, de partes
importantes das Catilinárias (discursos célebres travados entre Cicero e
Catilina):
"Há, nesta Ordem de senadores, alguns que
ou não veem aquilo que nos ameaça ou fingem ignorar aquilo que veem".
A influência das organizações secretas na política do Brasil
não deixou de ser citada. A exemplo da Maçonaria e da Bucha (Burschenfaft), o livro cria a “Ordem”. Seus
ideais e líderes são desvendados apenas ao final do livro, juntamente com a
identidade da Mariposa:
“
– O que é a Ordem? É uma organização? É Ordem de homens, mulheres, políticos,
médicos? O que é afinal?
– Apenas Ordem. Não se denominam coisas que
não podem ser descobertas.”
Não é de hoje que
heróis são criados em momentos de crises sociais históricas. O Capitão América,
célebre personagem americano, surgiu no auge da crise de 1929, enquanto que o
“Homem de ferro” foi criado em meados da Guerra Fria. Mariposa e Nicolas não
são diferentes. Resta ler esta trama nacional para desvendar outras conexões da
ficção com a história e a realidade atual.
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