quarta-feira, 22 de abril de 2015

Há quem não acredite em políticos honestos, pero que los hay, los hay





Quem conhece a história do Brasil sabe que, em momentos de crises e transformações, a sociedade inicia a busca por heróis e heroínas. Figuras controversas dividem a opinião pública, mas continuam em lugares de destaque entre os revolucionários, libertários e justiceiros: Dom Pedro II, Princesa Isabel, Tiradentes, Machado de Assis, Juscelino Kubitschek e Zuzu Angel. Em 2013, os brasileiros procuraram por figuras heroicas nas ruas, centro das manifestações sociais, mas poucos foram os encontrados ou reconhecidos. Na política atual, a procura por heróis justos e honestos é ainda mais difícil: você é capaz de citar quantos? 

Há quem não acredite em políticos honestos, pero que los hay, los hay. Mas quando se torna difícil encontrá-los na vida real, eles acabam por ser criados na ficção, como fez Patrícia Baikal, em seu primeiro romance político intitulado “Mariposa – asas que mudaram a direção do vento”.  Numa trama que se desenrola em Brasília, no ano de 2020, a autora traz um senador jovem de trinta e oito anos, Nicolas, que não se intimida diante de seus colegas corruptos, os quais fraudam licitações, vendem informações sigilosas de órgãos governamentais e põem em risco o futuro do país.

Mariposa é a mulher que conduz Nicolas num cenário político instável, desvendando esquemas de corrupção no Congresso Nacional, com a colaboração da Polícia Federal, Agência de Inteligência e até da Presidência da República. Ela também é a representação do universo feminino, e o seu papel no contexto histórico atual.  Mesmo não sendo ela a narradora da história (que é narrada por Nicolas, em primeira pessoa), os leitores verão que Mariposa tem um papel fundamental na trama. Sempre mascarada para omitir sua identidade, ela aparece e reaparece em lugares visados de Brasília (Monumento JK, nova torre digital, painéis de Athos Bulcão entre outros), explorando a capital em todos os ângulos arquitetônicos e paisagísticos.
O livro é também uma reflexão do momento histórico atual do Brasil, embrenhado numa política polarizada. Esta polarização é simbolizada no livro por meio do combate entre Nicolas e Brassel, dois senadores que travam discursos calorosos na tribuna, retomando os tempos antigos da Roma antiga, como a citação, por Nicolas, de partes importantes das Catilinárias (discursos célebres travados entre Cicero e Catilina):

"Há, nesta Ordem de senadores, alguns que ou não veem aquilo que nos ameaça ou fingem ignorar aquilo que veem".

A influência das  organizações secretas na política do Brasil não deixou de ser citada. A exemplo da Maçonaria e da Bucha (Burschenfaft), o livro cria a “Ordem”. Seus ideais e líderes são desvendados apenas ao final do livro, juntamente com a identidade da Mariposa:
“ – O que é a Ordem? É uma organização? É Ordem de homens, mulheres, políticos, médicos? O que é afinal?
 – Apenas Ordem. Não se denominam coisas que não podem ser descobertas.”


Não é de hoje que heróis são criados em momentos de crises sociais históricas. O Capitão América, célebre personagem americano, surgiu no auge da crise de 1929, enquanto que o “Homem de ferro” foi criado em meados da Guerra Fria. Mariposa e Nicolas não são diferentes. Resta ler esta trama nacional para desvendar outras conexões da ficção com a história e a realidade atual.

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